Domingo, 3 de Abril de 2011

A primeira exposição, sobre fotografia e cinema - "O cinema são 24 fotogramas por segundo." - mostrava algumas das minhas dores pessoais. Dores que não nasceram comigo. Dores que fui acumulando, com mérito, graças à minha personalidade, ao longo dos anos. Por erros, más decisões, impulsos, incapacidade, impaciência, insuficiências, enfim, falhas minhas. São dorzinhas, no fundo. Com estas eu posso bem.

Soube bem vê-las ali expostas, identificá-las, olhá-las nos olhos.

Saí de lá mais aconchegada, não tão sozinha. Tinha o sábado feito.

 

Rumei à segunda exposição.

Não sabia para o que ia.

 

A frase logo na entrada, captou imediatamente a minha atenção. Li. Desviei. Voltei a ler. Apeteceu-me roubá-la. Mas mal os meus olhos fixaram a primeira fotografia, tudo de esvaiu.

A cada fotografia que via, cada texto que as acompanhava lido, a sensação de aconchego desaparecia, dando lugar às dores grandes. As dores com as quais não consigo lidar, compreender ou aceitar. Aquelas que têm génese na minha condição de ser humana e que nasceram comigo. Dizem que me purificaram no baptismo. Mas eu nunca as deixei de sentir. Todos os dias as sinto: naquele que faz uso da sua superioridade (física e/ou intelectual) para maltratar/humilhar o próximo, naquele que espanca a mulher e/ou os filhos, na mulher que não se defende daquele que a espanca ou, pior!, não defende os próprios filhos, naquele que faz a guerra, naqueles que sofrem com a guerra, naqueles que passam fome, naqueles que esbanjam, naqueles que sofrem a injustiça, nos massacres levados a cabo em nome de um deus... Mas, e acima de tudo, na nossa indiferença, no nosso egoísmo.

E de que me vale sofrer muito com tudo isto se nada faço para que as coisas mudem? Roça a hipocrisia. Quase como se fosse indigna de as sentir.

Felizmente há quem faça algo.

E há quem as mostre.

 

O ser humano é este ser fantástico, querendo, capaz de coisas incríveis, capaz de se superar.

E à minha frente, ali estavam aqueles seres, verdadeiros humanos, no seu maior esplendor.

 

Se a cada dia que passa, eu cada vez mais perco a esperança na humanidade, a cada dia que passa descubro alguém que me a devolve.

 

Hei-de voltar a esta exposição. Hei-de registá-la. E hei-de lembrar-me dela, sempre que estiver à beira de ter um chelique de gaja.

Mas, se eu me esquecer, por favor, lembrem-me.



publicado por Brunhild às 13:20 | link do post | comentar

6 comentários:
De vouporai a 5 de Abril de 2011 às 17:40
tenho de ir ver isto.

és bonita :)


De Brunhild a 5 de Abril de 2011 às 18:09
tens mesmo! e despacha-te! posso ir ctgo, se quiseres.


De vouporai a 6 de Abril de 2011 às 09:08
queres, tem de ser no fim de semana :D

ainda se deve demorar, não?


De Brunhild a 6 de Abril de 2011 às 09:41
pois, aí é que está! só fica até dia 9 de Abril, ou seja, próximo sábado... :)


De vouporai a 6 de Abril de 2011 às 10:04
ouch... inclusive, espero!


De Brunhild a 6 de Abril de 2011 às 13:08
sim! ;)


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