A primeira vez que entrei no então Estádio das Antas, há muitos séculos atrás, foi pela mão do meu pai adoptivo. Almofada na mão, feita pela mãe adoptiva, azul, como convém.
Bichinha do buraco que era (sou) aquela multidão fazia-me muita confusão, ao mesmo tempo que me deixava quase em êxtase, mesmo sem perceber muito bem o que ali se passava.
Em minha casa não se via futebol, não se discutia futebol. Sabia que era do Porto porque era a equipa da minha cidade. A facção benfiquista da minha família ainda me tentou manipular mas, para mim, não fazia sentido ser de uma equipa de outra cidade que não fosse a minha. Além disso, era a equipa que ganhava!
Na altura assistiam-se ao jogos de pé. E eu, meia leca de gente, não via nada.
Então, ficava a olhar a multidão, a tentar perceber o que cantavam, a tentar entoar a melodia e cumprir o que me incumbiram: gritar "golo" quando toda a gente o fizesse.
Curiosamente, hoje, enquanto festejava mais um campeonato, desta vez para os lados do Dragão, dou por mim a recordar esses tempos e a pensar no quanto continuo a mesma: toda a gente salta, toda a gente grita, toda a gente extravasa, e eu limito-me a ficar lá, num orgulho desmedido, numa alegria contida, a fixar os olhares brilhantes, os sorrisos abertos, os abraços apertados, os berros levados até à rouquidão.
Não podia ser de outro clube, tal como não podia ser de outra cidade.