Quinta-feira, 14 de Abril de 2011

Se este texto fosse escrito há uns tempos atrás, provavelmente entitular-se-ia "Balanço". Nesta altura, nesta nova fase, pessoal e profissional, em que já sou  (quase)  capaz de certificar legalmente contas e, consequentemente, períodos, resolvi dar-lhe este título.

Chama-se evolução, que eu não quero ficar macaca para sempre.

 

Antes da crise económica e financeira se fazer sentir no país, Brunhild de seu nome, já estava em crise, na ressaca de um amor mal resolvido, que a deixou numa depressão profunda, com direito a tudo a que tem direito: crises de choro em tudo o que era lado (no trabalho, a conduzir, à mesa com a família toda reunida); Chegando ao ponto de, dada a queda que tem para prima-dona - foram muitos anos a ouvir ópera, nota-se pelo tema do blogue - ter pensamentos suicidas.

Foi nessa altura que, meia assustada, uma vez que houve um caso desses na família, resolveu procurar ajuda.

Foi ultimada a desligar-se: a encarar a perda e enterrar a esperança. 

Assim fez.

Aproveitou o facto do respectivo ter ido morar, para a casa que tinham construido juntos, com a sua substituta e fez o luto.

 

Foi por volta desta altura, porque uma desgraça nunca vem só, que as coisas começaram a descambar a nível profissional: a crise fez-se sentir na empresa onde trabalhava. E mais uma vez, com tudo a que tem direito: incerteza sobre o futuro, péssimas condições de trabalho e de ambiente, salários em atraso e uma casa para pagar, num desmoronar de situações até ao tão desejado pedido de insolvência fazer-se chegar.

Como Brunhild não é valquíria para ficar a ver a vida passar de braços cruzados, começou a responder a anúncios de emprego, antes de ir parar à estatística do INE.

Qual o seu espanto quando é contratada para começar a trabalhar precisamente no dia em que ficaria desempregada.

E qual o maior espanto quando, além de gostar muito mais do trabalho que faz agora (que era a área na qual sonhava trabalhar), até tem bom ambiente de trabalho e farta-se de rir com a big boss.

 

A vida finalmente sorria!

 

Até ao dia em que o defunto resolveu ressuscitar. Primeiro em aparições tímidas e esporádicas, com direito a dejá vù,  e, por fim, em pessoa.

Brunhild de seu nome, que pensava que tinha encerrado aquele capítulo da sua vida defitivamente, deu por si a sentir tudo de novo.

É o mal dos amores mal resolvidos. 

 

O que é que correu mal?! Eu explico! Têm tempo?

 

O rapaz não é má pessoa, embora se esforce bastante para passar essa imagem. E, na maior parte das vezes, até consegue.

Tem um péssimo gosto no que toca a mulheres. Gosta delas sopeiritas, que é para se sentir superior a elas. Gosta de as deslumbrar com a suas verborreias intelectuais, as quais elas ouvem atentamente, até ao fim - às vezes, sem bocejar - sem, no entanto, perceberem patavina do que foi dito. E adora ouvir o riso, à hiera – hihihihihi -  com que o brindam fim de uma das suas piadas.

Gosta delas ingénuas, diz. Acredita que assim, serão incapazes de lhe mentir ou de o enganar. É que ele gosta pouco de surpresas. Isso eu já sabia. Pois de cada vez que o tentava surpreender com um mimo, levava sempre na cara, pelo atrevimento. 

Eu queria ter-lhe dito que as sopeiritas, de ingénuas têm muito pouco. E que aquilo não era ingenuidade mas sim, só e simplesmente, burrice. Mas não quis arrasá-lo ou destruir-lhe os sonhos.

 

Ele queria porque queria que eu me tornasse na sopeirita da sua eleição. Sim, eu! Eu que não suporto sapatos de saltos altos depois das 18h da tarde, muito menos compensados, gosto do meu cabelo natural, odeio unhas de gel, sou preguiçosa para me maquilhar, não ligo pevas a estatutos sociais e tenho cérebro, e faço questão de o usar (nem sempre da melhor forma, é certo)!

 

Para ajudar à festa, passava a vida a pedir-me que lhe dissesse porque gostava dele. Sim, a mim! A esta pobre coitada que tem dificuldade em dizer às pessoas que gosta delas, quanto mais enumerar as razões pelas quais gosta.

Mas, como gostava  mesmo dele, das primeiras vezes, fiz um esforço para pensar nisso, e disse-lhe: gosto da luta interna que travas contigo próprio diariamente e da qual sais sempre vencedor, se quiseres; enternece-me, ao ponto te querer sufocar com beijos e abraços, esse travo melancólico que resiste no teu olhar; encanta-me a tua extrema sensibilidade quando te permites sentir; adoro o sentido de humor e a criatividade; intrigam-me as tuas inflexões de voz; o sorriso tira-me o fôlego; e, quando encontras a estabilidade emocional que tanto procuras e deixas o cérebro simplesmente fluir, estimulas-me com a tua intelectualidade bem acima da média, deliciando-me ver-te voar como uma águia, desculpa!, um albatroz, livre, pelo céu.

Da segunda vez, sussurrei-lhe As sem-razões do Amor, de Carlos Drummond de Andrade. Mas, das vezes seguintes, comecei a perder a paciência para aquela conversa. Tentei fazer-lhe ver que arranjar razões para amar alguém, não é amar, nem é amor. É procurar racionalizar algo que não deve, nem pode, ser racionalizado, mas sim, sentido. E que aquela conversa era perda de tempo, quando podiamos estar a fazer coisas bem melhores.

Depois desta fase, entramos numa fase em que todos os dias, quando eu lhe dizia "xau" pela manhã, antes de sair para ir trabalhar, ele encarava aquilo como se eu o estivesse a abandonar. E, quando ao final do dia regressava a Casa, de livre e espontânea vontade, para ele, porque gostava dele, era recebida em apoteose: tachos e panelas pelo ar. Felizmente, nunca me acertou. Estou convencida que não o fez porque não quis. Mas que temia por mim, temia. É que o rapazinho não tem noção da força que tem.

Um dia saí para ir trabalhar, demorei mais tempo do que era suposto a regressar a casa e, quando lá cheguei, ele já se tinha instalado lá com uma sopeirita.

 

No fundo, o rapaz quer e precisa de ser adorado, tal como Ian Brown, naquela música insuportável da banda da qual foi vocalista.

É compreensível. Todos precisamos de afecto. Só que ele precisa de muita quantidade. Mesmo muita quantidade. Eu, por exemplo, já dou mais valor à qualidade.

O que não deixa de ser irónico: ele precisa de muito amor, eu tenho amor para dar e vender, uma vez que nunca amei alguém. Só que, como não sei Reiki, não sei amar à distância ou mandar amor em bolas de fogo como no Dragon Ball. Preciso de um corpo onde possa concretizar o amor.

 

Mas isso também não faz dele má pessoa. Só uma pessoa extremamente insegura, com um  medo irracional de ser abandonado e com péssimo gosto no que respeita a mulheres.

 

O grande problema é ele estar convencido que a vida é uma série do Seth MacFarlane, da qual ele faz parte.

Como o Seth anda assoberbado de trabalho, de vez em quando é apanhado sem guião e fica perdido.

 

 

Nos interregnos em que está sem sopeirita de serviço, lembra-se da Brun e de lhe dizer o quanto ela é importante para ele. E ninguém se daria ao trabalho que ele se dá em se superar e reinventar mil e uma novas maneiras de a atingir e tentar magoar, se tal não fosse verdade.

Mas estou a ser injusta! Na verdade ele lembra-se da Brun mesmo enquanto brinca às casinhas com a sopeirita do momento. Ele é muito leal. Chamem-se as coisas pelos nomes. Peço desculpa.

Como, infelizmente, fazem-me falta gajos que me estimulem intelectualmente, quando ele aparece, eu brinco com ele, de bom grado.

Além disso, tenho uma tremenda dificuldade em negar pedidos às pessoas de quem gosto, que posso fazer?

Verdade seja dita, com este vai e volta, já se tornou na ralação mais longa que eu tive.

 

Mas sei que não tardará muito, encontrará  uma sopeirita nova que lhe faça as vontadinhas todas e me vai dizer que serei sempre a mulher da vida dele, mas que está na hora de partir. Eu deixo que ele vá. Afinal ele é o macho da relação: o que ele decidir, está decidido! Se ele quiser ficar, óptimo; Se ele quiser partir, desejo as maiores felicidades. Quero que ele seja livre. Gosto de ver as  minhas pessoas bem e felizes.

Não há, contudo, altruismo sem egoismo: talvez assim eu possa fazer o mesmo por mim, agora que voltei a ter tempo para  me dedicar a isso.

 

Aliás, vida é mesmo assim! Feita de momentos: 24 momentos por segundo.

Depois de tudo o que eu passei nestes últimos tempos, aprendi que nada é certo na vida. A vida muda num instante. Portanto, sem grandes planos, sem grandes dramas. Viver intensamente, mas momento a momento.

Quem sabe num destes dias a vida não nos proporciona - a mim e a ele - um desses momentos e resolvemos a questão, definitivamente, em sede própria, onde precisa ser e ficar resolvida.

Ou quem sabe eu encontro alguém que me proporcione bons momentos, e a quem eu proporcione bons momentos, que não me peça garantias porque toda a gente sabe como andam os mercados, nem me pressione para fazer promessas que eu não tenho a certeza de conseguir cumprir, ou para dizer coisas que eu não tenho  a certeza sentir, até porque eu não quero passar por mentirosa.

E quem sabe num abrir e piscar de olhos, avançamos no tempo, para lhe dizer, por fim: afinal, estive sempre do teu lado e amei-te o tempo todo, conforme sonhamos.

Até lá, vive-se a vida!

Uma coisa é certa, verem-me lamuriar por falta de amor, ninguém me vê. Em primeiro lugar, porque amor não me falta. Sabe-se lá porquê as pessoas gostam de mim. E até tenho amigas e amigos. E, em segundo lugar, porque quando nos deparamos com problemas sérios na vida, minimizamos os outros que pareciam maiores do que na verdade são..

Mas que gostava que alguém me encontrasse alguém para amar, gostava.



publicado por Brunhild às 13:03 | link do post

De naovouporai a 14 de Abril de 2011 às 15:22
like! (para não dizer que tu és grande, e lhe devias dar mais vezes com a alma na escrita) ;)


De Brunhild a 14 de Abril de 2011 às 15:35
:)
agora que a vida parece voltar a sorrir... quem sabe!...

escusado será dizer que todas as personagens e factos são fictícios, criações da minha enorme imaginação, falta de preocupações (finalmente!) e ego desmedido.



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