"Para Alfred de Musset, 15-17 de Abril de 1834
(...) É, de facto, verdade que não estás doente, que estás forte, que não sofres? Receio constantemente que, por afecto, exageres em relação à tua boa saúde.
(...) Não acredites, não acredites, Alfred, que poderia ser feliz com a ideia de ter perdido o teu coração.
(...) Sei que te amo e é só isso que importa. Olhar por ti, proteger-te de toda a doença, de todas as contrariedades, rodear-te de distracções e prazeres, essa é a necessidade e o arrependimento que sinto desde que te perdi. Por que é que uma tarefa tão doce, e que eu deveria ter desempenhado com tanta alegria, se tornou, pouco a pouco, tão amarga, e depois, de uma só vez, impossível? Que fatalidade tornou em veneno os remédios que eu oferecia? Por que é que eu, que daria todo o meu sangue para te proporcionar uma boa noite de descanso e de paz, me tornei para ti num tormento, numa praga, num espectro? Quando essas memórias atrozes me cercam (e a que hora me deixam em paz?), quase fico louca. Humedeço a minha almofada com lágrimas. Oiço a tua voz chamar-me no silêncio da noite. Quem me chamará agora? Quem precisará da minha vigilância? Como poderei utilizar a força que acumulei para ti, e que agora se vira contra mim? Quanto não necessito do teu afecto e do teu perdão! Nunca me perguntes pelos meus, nunca digas que foste injusto para comigo. Como é que eu sei? Não me lembro de nada, excepto de que fomos muito infelizes e de que nos separamos. Mas agra sei, sinto que nos devemos amar do fundo do nosso coração, da nossa inteligência, para toda a nossa vida, que nos devemos emprenhar, por um carinho sagrado para nos curarmos mutuamente das doenças de que padecemos um pelo outro.
(...) Não foi culpa tua. Obedecemos ao nosso destino, pois nossas personalidades, mais impulsivas do que as outras, nos impediram de asquiecer uma vida amorosa normal. Mas nascemos para nos conhecermos e amarmos, disso podes ter a certeza.
(...) Tu reprovaste-me, num dia de febre e delírio, dizendo que eu nunca te tinha proporcionado os prazeres do amor. Derramei lágrimas por tal reprovação, e agora estou agradada por haver algo de verdadeiro nesse discurso.
(...) Mas quando estiveres sozinho, quando sentires necessidade de rezar de derramar lágrimas, vais pensar na tua George, na tua verdadeira companheira, na tua enfermeira, na tua amiga, em algo melhor do que isso. Pois o sentimento que nos une é feito de tantas coisas que não pode ser comparado a qualquer outro. O mundo nunca o irá compreender. E é pelo melhor. Amamo-nos e podemos estalar os dedos em relação a isso..."