Sei perfeitamente que o senhor S. Pedro ficou amuadinho por eu não ter aproveitado o excelente dia de segunda-feira que me proporcionou e não ter ido à praia. Não tenho que lhe dar satisfações da minha vida, nem dos meus apetites, mas desde já lhe digo que, apesar de gostar muito de praia, não me apeteceu ir. Ponto! Não faço praia porque está um dia bonito. Faço praia porque gosto de praia. Independentemente do dia que está. Ou do dia em que estamos. Ou porque é uma bela maneira de passar o dia com as pessoas que gosto. Entendidos?
Resolveu castigar-me com esta bela chuva levada a vento forte. Sabe que mais, S. Pedro? Eu até gosto! Gosto de oferecer presentes fora de época, gosto de bolos de aniversário fora deles, gosto de abraços precoces, gosto palavras fora do tempo e gosto do Inverno a meio de Julho.
E mais lhe digo! Se pensou que iria ficar chateadinha com a sua brincadeira, enganou-se redondamente. A minha tolerância para lamentações é pouca ou mesmo nenhuma. Principalmente para as minhas. Não sou menina para ficar a lamuriar-me. Seja do que for. Devia saber disso, senhor S. Pedro.
Assim, também eu levada a vento, calcei as luvas, de borracha, abri as janelas de par em par, e desatei a limpar.
Esta é uma das muitas vantagens de ser mulher: nunca nos entregamos ao tédio, a não ser que nos apeteça. Há sempre alguma coisa para lavar ou limpar, passar a ferro, receitas a experimentar, roupa a arrumar, sapatos para alinhar. Ou compras e recados por fazer.
Banda sonora seleccionada. A condizer ou a contrastar, depende. E sobre este assunto não me alongo porque o senhor S. Pedro, como ser do sexo masculino que é, não iria perceber a dinâmica. E luvas à obra!
Ele foi um arrasta sofás e móveis, tira e lava tapetes, passa pano e esfregona, lava louça e leva lixo, numa azafama total.
Chega a ser catártico! E dá-nos - a mim, pelo menos, dá - a sensação que, de espanador em riste, não há lugar nenhum onde não possamos chegar. Ou pó na nossa vida que resista.
Umas horas depois, casa a brilhar, estendo-me no sofá, qual Criadora a admirar a sua obra. O cheiro de uma casa limpa e arejada é dos meus preferidos. Não sei se se deverá à ausência de pó, se do ar que foi renovado, se da mistura dos cheiros dos produtos de limpeza. A seguir a este, só o cheiro da roupa lavada à mão com sabão de barra e acabada de passar a ferro. Ou talvez o cheiro do corpo acabado de sair do banho, ainda antes do creme hidratante.
E foi isso mesmo que eu fiz: tomei um longo banho.
O primeiro banho que se toma depois de se ter limpo o quarto-de-banho, é o que sabe sempre melhor. E, ainda por cima, este era merecido.
Assim como foi merecido o jantar que se seguiu. E como será merecida a sessão de cinema que se seguirá, agora. Porque não é uma chuva destas que me vai fazer ficar em casa. Não, senhor.
Portanto, senhor S. Pedro, a título de conclusão porque estou em cima da hora, se achou que era assim que me ia estragar as férias, achou muito mal. Na verdade, até me ajudou!
E pode mandar dias destes sempre que quiser. Eu gosto!