As pessoas tornam-se mais, ou menos, importantes, não por aquilo que são, mas por aquilo que nos fazem sentir.
Eu lembro, como se fosse hoje, o que me fez sentir quando li, de uma assentada, o Ensaio Sobre a Cegueira. Ainda hoje, um meus livros preferidos.
Voltei a ele, mais duas vezes. Uma das vezes, quando soube que ia participar - cantando, claro - na banda sonora que iria acompanhar a peça de teatro baseada neste meu livro: Ensaio Sobre a Cegueira - Requiem pela Humanidade, encenada pelo João Brites, da magnifíca companhia de teatro O Bando.
Adivinho, sem dificuldade, o que fez sentir a Jorge Salgueiro, para que este tivesse composto aquela emocionante peça musical.
Seguiram-se ensaios intensos. Muitas vezes de pele arrepiada.
Assisti à estreia da peça, no TNSJ, que contou com a sua presença.
Recuo no tempo, novamente, para voltar a sentir aquela ovação espontânea que recebeu da plateia, em pé, durante muitos, mesmo muitos, minutos, seguidos.
Eu, chorei.
Ele não acreditava, e a mim custa-me muito acreditar. Mas gosto de pensar que é lá que estão os bocadinhos de mim que já partiram.
Obrigada!
(In Paradisum: Ensaio sobre a Cegueira - Um Requiem pela Humanidade, do Compositor Português Jorge Salgueiro, numa interpretação da criança Inês Homem de Melo Marques, do Coro Infantil do Círculo Portuense de Ópera e da Orquestra Nacional do Porto, sob a Direcção do Compositor.)