Mais uma morte; Mais um funeral; Mais uma vez, o sentimento de perda. Sem qualquer hipótese de retorno. De forma definitiva.
Não é a angústia da ideia de vir a perder, mas a perda real, física, concreta.
O sentimento é de tal forma insuportável, que o corpo não aguenta, desfalece, perante a despedida.
Olhar para aqueles olhos tristes e ouvir dizer "perdi o meu companheiro de 42 anos e agora?".
Não faço ideia. Não faço a menor ideia. Não sei como se vive depois...
O peito parece rasgar-se a cada respiração mais profunda; De resto, tudo é vazio, desamparo, solidão.
Uns dias depois, a lágrima continua fácil, despoletada por uma palavra mais sentida ou um abraço mais demorado. Entra-se em modo de sobrevivência.
O que me apaixona no ser humano, o que me empurra a continuar e a acreditar, é esta capacidade que o ser humano tem de superar-se. Alguns, pelo menos.
Não precisa de destruir ou de matar para sobreviver, como no mundo animal. Busca força onde tiver de ser, dentro de si, e consegue combinar o instinto de sobrevivência com bondade, por exemplo.
Continua a ser difícil fixar aqueles olhos tristes. No entanto, a cada dia que passa, parece-me vê-los querer voltar à vida. Só que o pior está por vir... Em breve, cada um voltará às suas vidas, às suas coisas. Ficará só, com as suas memórias, sem o seu companheiro, naquela casa que ambos construiram, que quase era deles e que finalmente poderiam desfrutar.
Como se vive depois de perder o companheiro de 42 anos? Não sei...